Tuesday, May 04, 2010

escrever merda ou sublinhar um livro de Pessoa ( continuação )

Há que ter mais alcance neste universo de instruídos

A crítica amargurada, viúva de homem decepada.

Que nada mais vos rebata
Seres simples e preclaros
Para quê caminhar e florir pés em dor
Se para o simples peixe basta pescador

Senhores de simplicidade com motivo
não olhem só para o umbigo

Na minha simplicidade cabe uma cama ,
onde o crocodilo beija o grilo que ama
e a morte deseja , porque não ?!
A sorte a um castor sem dentes .

A hipócrita simplicidade
tem mais lágrimas que o crocodilo que já não mais pode amar o grilo

Que nada mais vos rebata
Que o interesse engenho de um gato

‘’ Soletro na tua boca um beijo maiúsculo ‘’

E rabisco minúsculas presenças
É que ás vezes não vejo outra senão solução
Que não seja o escrever
Consagrar-me assim vazio, pálido de demoras breves
a cada silêncio entre as sentenças.

Ajuízo-me em aquário
de forja que oxigena uma vida não secreta
para observadores mal animados

Passem me uma certidão de existência
comprovativo de um estado a definir.
Toda a invenção é o partir
para alguém que sentencia.
E reviso as mesmas coisas de rostos já tão habituais

E rimo sim , procuro palavras que rimem , mulheres que ame , água que beba … e desafio , porque não há nada a que não me atreva , e se dizem ‘’ vai procurar trabalho ‘’ mando todos pro caralho e acendo um cigarro .

Tuesday, February 02, 2010

Chamo-me Damião e estou cansado.
Tenho o canastro moído, o cu sentado sobe o alto de uma conjuntura panorâmica .
Daqui o mundo parece bem mais pequeno , o céu tão perto de um chão de nevoeiro que batalha inglória contra o esqueleto de granito e outros seixos sem nome .
Poderia caber numa bola de vidro pesado , paisagem equilibrada na mão de uma petiza parisiense vestida de um animal de pele valiosa .
A névoa gela-me o corpo , sinto-o de forma mais flagrante nas extremidades , em particular na ponta dos dedos , é difícil mexe-los . Fricciono a palma das mãos uma na outra , o gesto torna-se familiar , devo o ter feito varias vezes , talvez a moldar cobras de plasticina ou a predizer uma iguaria deliciosa.
Há pequenos nichos de neve a cobrir o calvo pasto da serra, a terra é negra e dura , adivinham se medíocres pinheiros e algumas fiadas de castanheiros despidos , o ar é gélido e paralisante.
Nas minhas costas eleva-se uma enorme parede de granito, um mar de cinza frio disposto em vertical, é picotada de grandes irregularidades ,.. - Testemunhos do tempo .., -diria um guarda-livros , para mim mais parece uma enorme lápide vandalizada por um rato dentes de sabre.
Alteio as mãos já quentes ao nível do meu rosto , juntas e arqueadas pela extremidade mindinha criam um abrigo que preencho com o ar acalentado que me ausenta da boca . Deu me vontade de rir ao vê-las tão perto , as mãos têm linhas e montes e eu estou aqui com elas, numa serra e sem um plano .

Sei que irá anoitecer e não vou esperar por confirmação , anoitece sempre .
Preciso de me manter quente , tenho de secar estas roupas … que roupas são estas , que dizem elas de mim ? Não me lembro de nada .
Cheiro a húmido caldeado com transpiração , os tecidos são velhos e gastos e não prendam pelo colorido . As calças são de um tecido grosso , parece fazenda com acabamentos toscos e desprovidos de competência estética . Tenho uma camisa encorpada de flanela com padrões que variam entre o vermelho gasto e um verde tropa, coloquialmente delineados por corrimões de tinta negra. A cobrir a camisa , um casaco de pele , sei que é genuína pelo cheiro intenso que tem . Não tem vincos do uso , é sem duvida mais recente que as restantes peças de roupa .
As botas são velhas e gastas , não parecem ter vontade de contar a minha história . Queixam-se dos pés que se calçaram de ‘’meias ‘’ maratonas constantes.
Não faço qualquer sentido vestido desta forma.
Está frio e não há ninguém para culpar.



Descer deste meu trono torna-se uma tarefa bem mais difícil do que poderia cogitar , uma passo menos firme poderia precipitar-me numa queda com um final aparatoso, sem fragor triunfante , fracturas múltiplas , hematomas , perfurações , hemorragias , traumatismos .. não posso correr o risco de partir dentes , os mortos com a boca desfeita sempre me deram enjoo .

O chão já firme torna-me mais perpendicular, até gosto de assim estar , respiro de forma mais fluida e torno-me menos rígido


Nada está seco . Vai ser difícil fazer fogo . As poucas arvores em volta estão verdes e húmidas .

Perco outra vez a minha verticalidade , afinal de contas , os galhos e as folhagens caídas não nascem nas arvores , seria cómico de ver e imaginar como seria , mas não tenho tempo para o fazer .

Estou a caminho do meu pequeno covil na escarpa. Ter andado fez me bem , estou menos torpe e mais escorado nos movimentos , ainda bem que é assim. Terei de fazer três vezes o mesmo trajecto para acarretar todo o entulho orgânico que encontrei .
Na primeira viagem o trajecto adivinhou-se complicado , subir novamente , carregado e a deslindar o melhor percurso para o fazer , saber de forma prudente onde fixar cada passo tendo sempre em conta o equilíbrio da carga .
A segunda foi bem mais fácil, memorizei o melhor curso da subida, antecipei os pequenos incidentes, sem duvida aprendi com a primeira vez, não tive tanto medo, não oscilei .
Pensei que o terceiro fardo se torna-se agora o mais fácil, mas não. O peso das duas primeiras subidas cansou-me.

Nestes momentos acho me ridículo, risível, assombra-me sempre o pensamento de uma suposta moral a retirar . Passo a explicar , primeiro cometemos erros , depois assimilamos , aprendemos com os mesmos e progredimos , seguidamente dá se a fase do término , de uma idade gasta , onde a única coisa que nos resta é a experiencia para alumiar alguém a fazê-lo da melhor forma .
Está frio e não tenho ninguém para ensinar .

Recordo-me de relatos que de certa forma se poderiam congregar ao meu . Esta história ‘’típedecida’’ ( típica ,tipificada , estupidificada , cliché ) , de alguém que perde a memória e que desperta num lugar que lhe é estranho , normalmente , lugar esse , envolvido de alguns contornos enigmáticos , que se mesclam com o Ser solitário perdido numa ‘’imensidão natureza ‘’, restrita aos perímetros geográficos descritos . Desta forma , pesa então em mim , a imputação perante esta formula , este argumento já tantas vezes usado , que no fundo terá sempre um fundo fundamentado . Tenho então de encontrar todo o fundamento disto , a narrativa entre o chicote da minha vida e o barqueiro ’’ nublecido ’’ do rio Estige.

Thursday, December 10, 2009

Para Rafaela

Dá divas de mãe
Cereja que se veja

O corpo transporta os sinais das estrelas
Vertigens de homens cometa
Em avidezes de singularidade

vi-te um dia vestida de brincadeira
no castelo
ainda quase de areia
criança miúda
Disney pequena sereia

Passa que passa o tempo
Assim , num devagar diminuto
Crescido foi o vento
Velho de botas abrupto

Dos mares sais mulher
Planície de fértil delicado
Oh Ícaro, queima belo
Almeja tuas virtudes

Alojo de sentir o teu sorriso
E ao imaginá-lo renascer num alguém
Que de te bem-querer
O guarda tão bem
No colo galáxia ,… oh Mãe !!!

Ama-o
De coração
Que de Gabriel
Só me resta este papel
Tão menos gritante das noites
De fraldas açoites
Onde o sono crescido
Aclama vias lácteas.

Fácil seria dizer que seria difícil
Mas na alacridade
Do teu alento incontornável
acredito
Nunca é tarde para dizer o que nunca foi dito .

Monday, November 23, 2009

Para Ti

Sinto fortuna nos meus braços
ter-te , foi outrora uma miragem
De forma pungente, passagem
tão longe de mim nestes Paços
.
Repouso agora em teus lábios
Carne de rubra uva
Outono de sol carpido, chuva
Vertigem de medos sábios
.
O amor vem devagar ( divagar )
paras , vens , voltas e vais
tão solta , livre , vento nos Estais
pela noite sem Ti apenas sonhar
.
Quando junto de Ti for Tu na ( tea for two)
fortuna
.
Reclamam os Deuses desse teu berço
onde anseio minha boca
pedaço esguio de morte pouca
que nele repouso , amo , padeço
.
amo-te baixinho
à varanda da minha alma
nos silêncios semeio beijos ( tributos )
reflexos
teus olhos claros ( para mim )
convexos

Friday, November 20, 2009

Sombra


A minha sombra
Vejo como nela não me revelo
Tento-a reparar com posturas
Obtusas à mirada de um estranho

O estranho perspectiva
Sempre de forma diferente.
Tem nele um olhar impuro
Fruto de medos e de não comeres

E as sombras têm olhos
E mesmo assim,
É-lhes autorizado fustigar os muros
Sem sustos ou arquétipos das ordens físicas

Nas sombras revejo os vestidos de meios tons
Pretos sempre de claros olhos
Que aos molhos
Se encontram com a lua

As sombras fundem-se sem passageiro
Um passo
Um acto
Movimento ligeiro;
Simbioses sem procriação afinca
Desta sempre postura , meio sentado deitado
De ângulos estranhos e desfigurados.

Estou para mim
Como a minha sombra esteve para mim
Quando estive para mim

Tenho-me …
Não me guardo
Qual papel vegetal ,
Temática fado , festiva
Aniversário ou natal

Deixo-me só
Para que não me ausente
E da sombra guardo a saúde
É que mesmo morto , a terei
( a minha sombra )

Sunday, October 25, 2009

Procrastinar :)


Eram tecidos feitos de dúvida.
Olhares que se contemplavam
Iludindo o pôr-do-sol.
Beijos mentiam os anjos
Gestos se faziam demónios
.
As margens do Tejo eram de outros
Mas tão nossas
Que as baptizávamos
.
Cabia em ti feito navio
Voz grave, ao ouvido
Surtida de pequeno
Tão grande almoço
.
Selávamo-nos por comboios
Metros de ferro feito
Talheres do manjar nosso
E como… Te fazer compreender?
Tu, tão única
Bela, sem te ter ao sol nascer
.
Perco-me nas estações
Tão mais que as do ano
E desta forma, assim
Sem plano
Faço-me íntimo
.
Deveria não dever
Questionar este tão pulcro,
Desta forma ser
Porque te gosto
Porque te faço gostar
Eu homem, tu mulher
Oh Tejo, tua preia-mar
.
E o navio ao longe
Escalava,
Desviando do seu olhar
O nosso motivo
Beijar, fingido
Gosto ou amar
..............
( A continuar )
..............

Monday, October 05, 2009

(ainda sem título )

Outono de mágoas
Sonhos embalados em águas
Repouso de herói caído.
Aparece nesta trama
A certeza de quem morto se engana
Algum dia ter vivido.

Brotam nas manhãs geadas
Corpos de mulheres amadas
Solstício de feito sofrido.

Congrega-se ao seu amparo
O sangue morto disparo
Alguém terá morrido.

Ridículo torna-se a sombra no acordar
Este tantas vezes manjar
De quem a meu lado repousa
Tudo está prostrado
Lençóis, aquário e louça

Visito no cigarro
A memoria própria de quem busca
centelha do que aconteceu
Não era mais ela,
Era unicamente uma forma
Que em episódio de sono teceu

Vingar-me de mim seria convidativo
Aprimorar ao som de Mingus
a circuição a dar, sem na manhã geada
a ter de a acordar